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quinta-feira, 18 de abril de 2013

Liberdade na Clausura

Mais uma entrevista com as Irmãs do Carmelo Nossa Senhora do Sorriso e Santa Teresinha, Natal-RN.

INAUGURADO NO DIA DA MISSA DE ENTRONIZAÇÃO DO PAPA FRANCISCO, O MOSTEIRO DAS CARMELITAS DESCALÇAS FOI ABERTO AO PÚBLICO DURANTE O DIA E DEPOIS FECHADO POR TEMPO INDETERMINADO. LÁ, OITO RELIGIOSAS PERMANECERÃO ENCLAUSURADAS.

Quase no mesmo horário em que o papa Francisco deu início oficialmente ao seu pontificado terça-feira passada, dia de São José, oito religiosas deram adeus a familiares e amigos e fecharam as portas do novo mosteiro da Ordem Carmelitas Descalças em Emaús, na Grande Natal. Com votos de clausura, o contato com o público externo a partir de agora será apenas por entre as grades. Em um tempo de pessoas com acesso ao mundo na palma das mãos, jovens como Maria da Trindade, de 27 anos, afirmam ter encontrado sua liberdade entre as paredes de um Carmelo.

Atualmente, são sete irmãs fixas na residência, uma em visita até maio, e outras duas vocacionadas, que ainda não vivem no local. Fundado em 2009 por irmãs de Teresina, no Piauí, o Carmelo funcionava na sede antiga do chamado Seminário Menor de São Pedro, situado na Granja do Clero, ali perto, também em Emaús. O recém inaugurado mosteiro da Ordem das Carmelitas Descalças é uma homenagem à Nossa Senhora do Sorriso e à Santa Terezinha, que também viveu a ordem das Carmelistas Descalças em 1888, na França.

Dom Heitor de Araújo Sales, irmão de Dom Eugênio Sales, foi o idealizador do Carmelo potiguar, e também quem empreendeu toda a construção do local. Aos 87 anos, esteve presente durante toda a cerimônia de inauguração, e acompanhou o arcebispo de Natal Dom Jaime Vieira Rocha na benção do local, com o banho de água benta em todos os cômodos do mosteiro após a celebração da missa.


Quando nomeado bispo da Diocese de Caicó, em 1978, Dom Heitor conta que desejava um mosteiro contemplativo para servir como uma espécie de suporte aos trabalhos da igreja. Foi então que viabilizou o Mosteiro das Irmãs Clarissas, em homenagem à Santa Clara, fundado em 1984, há quase 30 anos. Segundo ele, o local começou com sete irmãs e chegou a abrigar 30, antes da abertura de uma nova sede em Marília, São Paulo.

Dom Heitor destaca que, até então, Natal era a única capital do Nordeste que ainda não possuía um mosteiro carmelita. Ele informa que o local o novo mosteiro servirá de apoio para que a Arquidiocese esteja em comunhão com a igreja. “Estou muito alegre, acho que foi um milagre porque eu olho e não sei como conseguimos tudo isso!”, brinca.


Da data da construção do Carmelo, 21 de março de 2011, até a sua inauguração, foram menos de dois anos. A estrutura conta com pelo menos oito celas, nome dado aos quartos na clausura, um quarto adaptado para as idosas e enfermas, uma sala de convivência, uma sala dos paramentos, onde se produz o material litúrgico, uma lavanderia, um jardim e uma horta, que por enquanto, só cultiva flores para enfeitarem a capela, mas em breve deve também produzir os alimentos consumidos no local.

Na semi-clausura, há uma capela com grades que dão para a igreja do mosteiro, que é aberta ao público e tem missas diariamente às 6h30, e no domingo às 8h. E ao lado da capela, há o coro, espaço onde se reúnem para fazerem a liturgia das horas, sete vezes ao dia.

Para atender aos visitantes, há uma portaria externa onde é realizado também o recolhimento das doações - além de três locutórios, estruturas com grades de ferro onde podem ter contato com as internas. E uma hospedaria com quatro celas, que abrigam a funcionária do local, mas deverão ficar disponíveis também para atender os parentes das irmãs e até pessoas em retiro pessoal.

Irmã Maria da Trindade, piauiense, pensava em trabalhar,
casar e ter filhos, 
mas quando conheceu a 
ordem resolveu se dedicar à igreja !
No lugar do curso de inglês, o claustro

Dentre as irmãs que vivem no carmelo, cinco tem os votos professos, e outras três estão em processo de formação. Maria da Trindade, aos 27, é uma das noviças que se preparam para professar os votos de carmelita. Natural de Teresina, no Piauí, mora em Natal deste a fundação do Carmelo, em 16 de julho de 2009, dia de Nossa Senhora do Carmo.


Antes de conhecer a ordem religiosa, ela conta que chegou a cursar Letras, e Inglês, na Universidade Federal do Piauí (UFPI) durante um ano. Pensava ter um emprego e casar-se. Mas em 2002, aos 16 anos, sua irmã foi para um retiro próximo a um Carmelo e a contou sobre o que viu, despertando sua curiosidade. “Pensava ser um costume apenas de séculos passados”, lembra.



Maria conta que conheceu o mosteiro durante a celebração de uma missa, e afirma que sentiu ter sido chamada a viver a vocação, como um amor à primeira vista num relacionamento afetivo. “Mas só depois é que eu amadureci isso, como também acontece com um casal”, compara. A partir desse primeiro encontro, começou a visitar o mosteiro para visitar a madre superiora, conversando com as irmãs por entre as grades, e mais de perto, quando precisavam se deslocar do carmelo por alguma necessidade. Foi nessa época que decidiu ser uma carmelita.



Três anos e meio depois, a noviça afirma que os votos da clausura nunca lhe trouxeram sentimento de prisão. Segundo a agora irmã Maria, quem tem a vocação sente-se livre mesmo na clausura. Já no primeiro contato com o mosteiro percebeu que a realidade que queria viver era a vida contemplativa, de oração constante e diálogo com Deus. “Já estou tão acostumada com o hábito que, quando saio na rua, estranho quando as pessoas me olham. Só depois lembro que é por causa das vestes de carmelita”, afirma.



Freira, mesmo contra a vontade do pai

Madre Superiora, irmã Maria de Jesus entrou na igreja sem o pai saber.

Maria de Jesus, de 54 anos, é a madre superiora do Carmelo, ou priora (primeira). Ela explica que este título é recebido através de uma eleição; e que é responsável por ser aquela que guia, reúne a comunidade e aconselha as irmãs, como o significado do próprio nome madre, que quer dizer mãe. “No mosteiro, a priora deve ser a primeira na caridade, na humildade, no serviço. Ser madre quer dizer isso”, afirma. 


Há 34 anos no Carmelo, Maria de Jesus é cearense, e a quinta filha de 10 irmãos. Na infância, entrou no Carmelo de Fortaleza, e já aos 11 anos foi para o Carmelo de Teresina, Piauí, onde passou 19 anos, e veio a Natal na fundação do Carmelo, há três anos e meio, onde mora até hoje.

A madre conta que se identificou com a igreja católica desde criança, chegando até a cobrar mais compromisso do pai, que ia a missa apenas em domingos e dias de festa. E foi o pai quem contrariou a sua entrada no Carmelo, chegando a passar cinco anos sem visitá-la por não concordar com a vida de clausura escolhida pela filha. “Minha filha não fez nada para estar presa”, reproduz a madre, sobre a fala do pai.


Em uma visita a Quixadá, interior do Ceará, em preparação para os votos da profissão solene (quando recebem o manto negro e fazem os votos de pobreza, obediência e castidade), Maria lembra que o pai foi visitá-la no Carmelo pela primeira vez, e mostrou-se satisfeito ao ver como estava a sua filha, e arrependido por não tê-la visto antes. “Depois disso, ao dizer que tinha 10 filhos, ele sempre destacava que uma era freira, e era a sua grande alegria”, lembra a irmã.



Na terça-feira passada, na inauguração do Carmelo, a madre chorou ao se pronunciar no final da cerimônia, que foi celebrada por Dom Jaime e Dom Heitor, e brincou que tem o “dom das lágrimas”, pois costuma sempre chorar em momentos de alegria, como foi o da inauguração de sua residência definitiva. Emocionada, disse esperar que o Carmelo sirva como base para a comunidade a partir de agora. 



Dentre as noviças, apenas uma é potiguar. Joseane Borges, de 19 anos, natural de Santa Cruz, postulante ingressa em 2012 e motivo de alegria para a madre, que diz ser o exemplo dos frutos colhidos pelo Carmelo durante o período no seminário menor. Agora, espera que as vocações floresçam ainda mais.



“O que eu rezei e espero do Carmelo é que ele desabroche sempre mais nas vocações, na santidade, na comunidade, e que ela seja uma benção pra a nossa Arquidiocese e para o mundo. Pois mesmo reclusas aqui, a nossa missão é para o todo mundo”.



A Ordem, inspirada em Santa Teresa



A data de inauguração do Carmelo potiguar foi escolhida devido a devoção de Santa Tereza D’Avila, fundadora da Ordem das Carmelitas Descalças, e a São José, considerado patrono da igreja católica. Segundo a madre, a devoção da santa a ele era tanta que o primeiro mosteiro da ordem, inaugurado em 24 de agosto de 1562 na Espanha, levou o nome do pai adotivo de cristo.



E ao contrário do que se pensa ao levar ao pé da letra o nome da ordem, todas usam sandálias. O termo Carmelitas Descalças surgiu quando, em um gesto simbólico, ao sair do Carmelo da Encarnação onde estava para iniciar a fundação da nova ordem carmelita, madre Tereza D’Avila tirou as sandálias que usava, simbolizando a penitência e despojamento do mundo para ofertar tudo a Deus.



Segundo a madre Maria de Jesus, a reformulação de santa Tereza foi a respeito principalmente da fidelidade da clausura e da vivência em comunidade entre as irmãs. Na época de Tereza, haviam cerca de 180 monjas em um só mosteiro, o que impedia que todas se conhecessem e vivessem em comunidade, como uma família. “Santa Tereza queria que fôssemos poucas e nos amássemos muito”, destaca a madre.



Em 1593, com a reformulação das carmelitas feita por Tereza e São João da Cruz, os mosteiros da ordem descalça podiam ter até 12 monjas, em alusão aos apóstolos de cristo. Depois, com a chegada da velhice das irmãs, houve a necessidade de aumentarem as comunidades, que hoje podem ter um número máximo de 25 monjas.



Apesar de a ordem aceitar frades e leigos, apenas as freiras são contemplativas, ou seja, vivem na clausura monástica. Desde que a menina entra no mosteiro até receber os votos de profissão solene, junto ao manto de cor preta, são pelo menos seis anos. As etapas percorridas antes da profissão são o vocacionado, que não tem tempo determinado e é feito fora do Carmelo. O aspirantado, quando a jovem inicia no Carmelo, que é de no máximo três meses. E o Capítulo, onde a menina e a comunidade vão decidir seu futuro. Se o desejo da vocação persistir, chega a hora do postulantado, que pode variar de um ano a um ano e meio, e antecede a profissão dos votos, quando podem assumir funções maiores nos mosteiros.



Rotina de silêncio, sem TV e internet



O Carmelo acorda antes que o próprio sol, às 4h40, com uma das irmãs tocando um instrumento chamado matraca (tábuas), cantando uma música que diz “Louvado seja nosso senhor Jesus Cristo, e sua mãe a virgem Maria, senhora nossa”. E nos quartos, que são individuais, as irmãs se levantam, ajoelham-se ao pé da cama e cantam em resposta.



Às 5h da manhã, o sino toca e todas devem estar no coro para iniciarem as orações pessoais, que vão até às 6h, horário das laudes, a primeira liturgia das horas da igreja. Após a última oração, que acontece às 21h, as irmãs voltam a se recolher em suas celas.



No mosteiro, o dia inteiro é vivido no silêncio, que é quebrado apenas quando há necessidade. Mas há dois momentos de recreio, que segundo a madre, são liberadas para o diálogo.



A preocupação com a manutenção do silêncio pode ser vista até mesmo para localizar as irmãs que estão dispersas. Nos mosteiros, a madre ou quem quer que precise encontrar alguém presente no local não grita, mas sim toca um pequeno sino cor de bronze, que fica no pátio central, com batidas que servem como códigos individuais para cada irmã. Uma badalada, por exemplo, corresponde a madre Maria de Jesus. E assim por diante.



Em dias de festas, como a inauguração do novo Carmelo, elas preparam apresentações internas, como peças de teatro, elaboradas e interpretadas por elas mesmas. “Nós fazemos a peça e nós mesmo aplaudimos”, brinca a madre.



Além da vida de oração, elas também confeccionam materiais litúrgicos, como as alfaias, peças que o padre usa para celebrar a missa, tais como a pala, o corporal, o manustérgio e o sanguíneo. Quando prontos, os produtos são vendidos em uma loja presente no próprio Carmelo, e servem como fonte de renda para a manutenção do local.



Além disso, o mosteiro também é sustentado pelos chamados benfeitores da paz, que fazem doações periodicamente, seja em dinheiro, produtos de limpeza ou alimentos, e também recebem ajuda da Arquidiocese de Natal.



Equipamentos como televisão e computador também existem no espaço. No caso da TV, o acesso fica restrito a coberturas importantes para a igreja, como foi a renúncia do papa Bento XVI, em fevereiro deste ano. Além disso, também é utilizado nas formações espirituais, com a exibição de filmes de santos e documentários.



No caso do computador, o acesso maior é a um documento da igreja chamado Zenit, uma portal de notícias com novidades de Roma, do qual são cadastradas para receberem boletins diários através do e-mail. Normalmente, o acesso ao computador é prioridade da madre, que também tem o papel de informa-lhes as notícias. As outras irmãs se revezam diariamente, conforme a necessidade.



Na clausura, cada uma fica responsável pelos trabalhos domésticos. Há uma irmã sacristã, outra responsável por acolher as pessoas na portaria, receber doações e ligar para os benfeitores, outra responsável pela alimentação do mosteiro, outras que cuidam do jardim e da horta.



No caso das noviciadas, a prioridade é a formação, que é intensificada nos primeiros anos para que as jovens aprendam as bases que fundamentam a doutrina, com base em documentos da igreja e escritos da santa madre Tereza.



A madre Maria de Jesus explica que nos últimos dias elas saíam da clausura diariamente para acompanhar as obras no local. Mas a partir de agora, as saídas do mosteiro ficam restritas a visitas ao médico, ou para resolver algum problema que a única funcionária da casa não possa tratar. É essa funcionária, inclusive, quem fica responsável por tarefas como ir ao banco, fazer compras e atender os visitantes.




Um comentário:

  1. MADRE MARIA DE JESUS ,QUE SAUDADE.SE QUE NÃO SE LEMBRA MAIS DE MIM .TIVE NO CONVENTO DE TERESINA . PARENTA DA IRMÃ ANTONIETA . CONSEGUI TE ENCONTRAR. QUE DEUS TE PROTEJA . UM BRAÇO DA FÁTIMA CECILIA DE FORTALEZA.

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